Réveillon em plena capital brasileira, caravanas de diversos Estados brasileiros e hotéis com alta ocupação. Assim deverão ser os últimos dias do ano, e o primeiro de 2019, em Brasília. Tamanha movimentação tem um motivo: a posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em 1º de janeiro.

Bolsonaristas compram pacotes para acompanhar a posse do presidente eleito | Divulgação/Direita de Mato Grosso
Foto: Divulgação/Direita de Mato Grosso / BBC News Brasil

Bolsonaristas ao redor do Brasil têm organizado, desde a eleição, caravanas de ônibus, carros, vans e aviões para acompanhar a cerimônia de posse. Segundo a rede hoteleira de Brasília, a expectativa é de que 80% dos quartos sejam ocupados. Em anos sem posse presidencial, a taxa gira em torno de 25% em dezembro e janeiro.

“Com a permanência de um governo no poder, a posse não tem impacto expressivo e poucos hotéis recebem hóspedes. Neste ano é diferente, pois é uma mudança”, afirma Adriana Pinto à BBC News Brasil. O segmento de bares e restaurantes do DF compartilha do otimismo.

A BBC News Brasil conversou com representantes de movimentos que estão organizando grupos que viajarão para acompanhar a posse na capital brasileira. Segundo eles, há diversos perfis entre os envolvidos, a exemplo de policiais militares, advogados, empresários, fazendeiros, crianças acompanhadas dos pais e idosos.

Segmentos comerciais dizem acreditar que posse de Bolsonaro superará em público as duas posses de Dilma e a de Lula em 2007; a incerteza surge quando a comparação é com a posse de Lula em 2003| Reprodução/Instagram
Segmentos comerciais dizem acreditar que posse de Bolsonaro superará em público as duas posses de Dilma e a de Lula em 2007; a incerteza surge quando a comparação é com a posse de Lula em 2003| Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/Instagram / BBC News Brasil

A cerimônia de posse de Bolsonaro deve ter início às 15h, no Congresso Nacional, onde ele será recebido pelos presidentes da Câmara e do Senado. No local, deverá ser executado o hino nacional e os líderes da Câmara e do Senado, além do presidente eleito, deverão discursar. Em seguida, o presidente eleito assinará o livro de posse e deixará o lugar. A previsão é de que o ato dure cerca de uma hora e meia.

Ao deixar o Congresso, Bolsonaro entrará em um carro em direção ao Planalto. Ainda não se sabe se ele andará de veículo aberto ou fechado, por questão de segurança. Por fim, subirá a rampa do Palácio do Planalto, onde receberá a faixa presidencial e deverá fazer discurso para o público presente. Ao menos por ora, esta é a previsão para a data de posse do presidente eleito. Até o dia 1º, podem haver alterações.

Organizadores de caravanas e pacotes de viagem acreditam que a posse em 2019 possa até atrair mais gente que a passagem da faixa presidencial em 2003, quando um público de 70 mil – conforme a Polícia Militar à época – ou 200 mil pessoas – segundo o PT à época – se reuniu em Brasília para acompanhar a posse de Lula.

A Presidência da República não divulgou nenhuma expectativa sobre a quantidade de pessoas que devem acompanhar de perto a posse de Bolsonaro.

Excursão baiana e 40 horas de viagem

Na manhã de 30 de dezembro, um grupo de quase mil pessoas confirmadas até o momento deixará a Bahia para acompanhar a posse do presidente eleito. A expectativa é de que 24 ônibus, cada um com 40 assentos, sejam usados para levar a caravana, que reúne moradores de diferentes municípios do Estado. Os veículos devem chegar a Brasília na manhã do dia 31 e deixar a cidade na noite do dia seguinte.

“A princípio, não esperávamos vender tantas passagens. Pensamos que haveria apenas três ônibus. Mas agora esperamos que até 1.300 pessoas de diferentes cidades da Bahia se juntem ao nosso grupo para participar da posse. Até o momento, 945 já pagaram o pacote”, explica Rômulo Batista, presidente do movimento Direita Bahia.

O pacote ofertado pelo grupo da Bahia custa R$ 780 à vista ou em quatro vezes de R$ 220, no cartão de crédito. O valor inclui viagem de ônibus, diária em um hotel da capital brasileira, camiseta da caravana, passeio para conhecer Brasília e jantar.

Segundo Batista, os lucros obtidos pelo grupo serão utilizados em despesas do movimento de direita. “No começo de 2019, nos tornaremos uma associação.”

Quando os baianos partirem para Brasília, dois ônibus de um grupo de direita de Cratéus (CE), cada um com 46 pessoas, já estarão a caminho da capital brasileira. É a cidade onde nasceu o pai de Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama.

O grupo enfrentará 40 horas de ônibus para chegar à capital brasileira. “Vai ser cansativo, mas essa viagem traduz todo o esforço que tivemos para apoiar o Bolsonaro desde a campanha”, afirma o cabo Rodrigues Júnior, da Polícia Militar, coordenador do movimento. O grupo da cidade cearense planeja levar uma faixa em homenagem a Michelle.

Cada membro do Movimento Avança Cratéus, grupo responsável por organizar a caravana na cidade, desembolsará R$ 380 para ir a Brasília. “Esse valor é correspondente apenas à passagem. A hospedagem não vai ser paga, porque temos amigos que conseguiram um local para nos abrigar”, explica Rodrigues.

Patrocínio para acompanhar a posse

Um dos desafios das caravanas foi buscar recursos para financiar a viagem. Um grupo de direita de Dias d’Ávila, na Bahia, viajará gratuitamente a Brasília, pois diz ter conseguido patrocínio de uma empresa de transporte que apoiou Bolsonaro na cidade. Segundo Rafael Sobrinho, líder do movimento de direita local, o dono de um cartório do município também contribuiu para pagar a viagem.

Cada integrante do grupo gastará R$ 140 para dormir em uma pousada da região. “Serão 36 pessoas no ônibus, para irmos a Brasília para acompanhar a posse. Deixaremos a nossa cidade no dia 30. São 22 horas de viagem. No dia 1º assistiremos à posse e retornaremos”, conta o representante do movimento.

Conforme Sobrinho, o grupo conseguiu patrocínio porque tanto o proprietário da empresa de transporte e o dono do cartório apoiam o presidente eleito. “Aqui na cidade, muitos empresários são eleitores do Bolsonaro. Eles ajudam o nosso movimento desde as campanhas eleitorais.”

Grupos de simpatizantes de Bolsonaro de Fortaleza (CE) também obtiveram patrocínio para auxiliar na viagem. Um músico da região, apoiador do presidente eleito, ajudou a conseguir um ônibus maior para os 48 passageiros que enfrentarão 40 horas de viagem da capital cearense a Brasília.

“O pacote custa R$ 650, que inclui uma diária em um hotel com café da manhã e jantar. A diferença é que agora teremos um veículo mais amplo, com dois andares”, diz a empresária Paloma Freitas, líder do movimento Endireita Fortaleza.

Segundo ela, o músico ajudou o grupo ao ver as condições nas quais eles viajariam. “Ele viu que passaríamos cinco dias em viagem e não teríamos conforto nenhum.”

Nem todos os movimentos, porém, conseguiram patrocínio para custear a viagem. Um grupo de direita do Acre tenta, há semanas, apoio para custear a ida de ônibus de apoiadores de Bolsonaro para acompanhar a posse. A viagem, caso aconteça, durará cerca de 72 horas.

O orçamento feito pelo grupo apontou que o aluguel de um ônibus com 55 passageiros custaria R$ 55 mil.

“Cada um teria que pagar R$ 1 mil para ir até Brasília, além dos custos no local. É um valor muito alto, por isso estamos atrás de ajuda”, diz a professora de português Rilhaene Aparecida Jialdi, que faz parte do movimento de direita no Estado.

Caso obtenham auxílio financeiro ou todos os membros do grupo consigam recursos para viajar, eles deverão deixar Rio Branco (AC) em 26 de dezembro.

Em razão das dificuldades para conseguir alugar o ônibus, alguns bolsonaristas do Acre estão comprando passagens aéreas para Brasília.

Ponte aérea

Há também movimentos que estão se organizando para viajar à posse em voos comerciais.

Um deles é o Movimento Direita Amazonas, que embarca para Brasília no último dia deste ano. “Não conseguiríamos ir de ônibus por causa de problemas de infraestrutura em uma rodovia da região. Seria inviável chegarmos a Brasília por meio terrestre”, afirma o analista de tecnologia da informação, Carlos Lucoli, líder do grupo.

De acordo com Lucoli, 50 membros do movimento deverão embarcar em Manaus para chegar a Brasília. As passagens aéreas de ida e volta já foram compradas e custaram, em média, R$ 1 mil. O grupo ficará hospedado em um hotel de Brasília, com diária de R$ 200. O grupo quer se reunir com “lideranças de movimentos de direita de todo o Brasil” após a posse.

Grupos de Cuiabá compraram pacote de ônibus para ir a Brasília
Grupos de Cuiabá compraram pacote de ônibus para ir a Brasília

Foto: Reprodução / BBC News Brasil

De Cuiabá (MT), quase 70 apoiadores de Bolsonaro que viajarão de avião e ônibus ficarão hospedados em uma mesma casa, alugada pelo coordenador do movimento Direita Mato Grosso, o comerciante Rafael Yonekubo.

“Consegui uma casa bem grande para o pessoal se hospedar em Brasília, para descansar e passar o Réveillon. O aluguel ficou por R$ 1,4 mil, que será dividido igualmente entre todos os que forem”, diz ele.

Pacotes turísticos

Agências de turismo passaram também a oferecer pacotes ligados à posse para quem opta por ir de modo independente, sem ligação direta com movimentos ou grupos.

“Venha participar da caravana oficial da posse do presidente Jair Bolsonaro. Brasília será tomada pelo cidadão de bem no dia 1º de janeiro de 2019”, anuncia uma agência de Presidente Prudente (SP) em uma publicação nas redes sociais, sem especificar valores ou outros detalhes.

O proprietário da empresa não quis conceder entrevista para a reportagem, dizendo que não poderia comentar sobre o assunto por “ordens do setor de segurança do Bolsonaro”.

Uma empresa de Minas Gerais relata à BBC News Brasil que oferece dois tipos de pacotes: por meio de transporte aéreo ou terrestre. Um ônibus sairá de Minas em 30 de dezembro, às 18h. Na mesma data, um outro veículo da empresa também deverá tomar a estrada em Guarulhos (SP). Os turistas acompanharão a posse e deixarão Brasília no dia 1º, também às 18h. O pacote inclui passagens, hotel, café da manhã e seguro viagem, por R$ 850.

Grupo no Amazonas comprou passagens aéreas para ir a Brasília
Grupo no Amazonas comprou passagens aéreas para ir a Brasília

Foto: Direita Amazonas/Divulgação / BBC News Brasil

“Esta é a primeira vez que criamos um pacote para uma posse presidencial, nos dez anos de existência da empresa. O grupo que apoia o presidente Bolsonaro nos trouxe aumento nas vendas, após o término das eleições”, afirma Tamirys Péres, que trabalha no setor de vendas da empresa. A dona da agência também deverá ir a Brasília para acompanhar a cerimônia de 1º de janeiro.

Até o momento, a empresa informa ter vendido 42 pacotes aéreos. Não foram divulgados dados sobre o transporte terrestre.

Outro setor que espera bom retorno financeiro com a posse presidencial é o de bares e restaurantes de Brasília. “A rede hoteleira já está com 50% dos quartos ocupados e esse número irá aumentar até o fim de dezembro. Isso favorece os estabelecimentos da região, que deverão ficar movimentados nos dias que antecedem a posse e em 1º de janeiro”, afirma Rodrigo Freire de Aragão, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal (Abrasel-DF).

“Será um movimento superior ao mesmo período de anos e posses anteriores, principalmente porque haverá uma mudança muito grande no governo”, completa Aragão.

Acampamento e Réveillon improvisados

Parte dos grupos que acompanharão a posse de Bolsonaro terá de recorrer ao improviso para economizar nos dias em que permanecer em Brasília. Alguns deles planejam acampar na capital brasileira, como o movimento Direita Ao Vivo, que representa a região metropolitana do Vale do Aço, em Minas Gerais.

“Iremos acampar em um parque da cidade, como na época em que nos organizamos para acompanhar o impeachment da Dilma”, afirma o publicitário Lincoln Drumond, coordenador do grupo mineiro.

Grupo de Minas Gerais vai acampar em um parque na capital
Grupo de Minas Gerais vai acampar em um parque na capital
Foto: Direita Ao Vivo/Divulgação / BBC News Brasil

Segundo ele, a iniciativa está sendo chamada pelos bolsonarianos – como eles se intitulam – como “acampamento conservador”. “Na época do impeachment, chamamos de ‘acampamento pela liberdade’. Agora tem um novo nome porque a maioria dos movimentos que participa é conservadora”, diz Drumond. Eles deverão passar apenas a noite do dia 31 de dezembro no lugar, pois retornarão para Minas Gerais no fim da tarde do dia 1º.

“O pessoal é instruído a levar barracas e produtos de higiene pessoal para o acampamento. De um lado ficarão as mulheres e do outro os homens. O parque tem banheiros que poderemos utilizar. Antes de acampar, faremos um cadastro na Polícia Militar, para que eles saibam que estaremos no local”, relata o publicitário.

Segundo Drumond, a expectativa é de que 200 mineiros durmam no “acampamento conservador”. Simpatizantes de Jair Bolsonaro de outros Estados também devem passar uma noite no local. “Também haverá outros acampamentos de grupos de direita em Brasília”, comenta ele.

Alguns também planejam dormir nos veículos que os levarão a Brasília. É o caso do Movimento Direita Noroeste Paulista. O grupo, que levará 15 pessoas em uma van, sairá de Nova Granada (SP) horas após a virada do ano.

“São 740 quilômetros da nossa cidade a Brasília. Acredito que conseguiremos chegar a Brasília no fim da manhã do dia 1º”, afirma o jornalista Filipe Eduardo da Cruz Medeiros, responsável por organizar a caravana.

Os grupos que estarão em Brasília no dia anterior à posse farão comemorações para a virada de ano. Muitos deles irão se juntar para celebrar a chegada de 2019. Parte dos bolsonaristas do Nordeste planeja um “Réveillon da direita do Nordeste”.

“Ainda não temos um local certo. Estamos reunindo pessoal do Maranhão e do Recife, além de outras regiões que também devem se juntar com a gente. Devemos ir a algum ponto oficial, onde haja um evento do Governo do Distrito Federal, para que possamos fazer a nossa comemoração da direita do Nordeste”, relata Paloma Freitas, do Endireita Fortaleza.

Segundo ela, a expectativa é de que mais de 300 pessoas se juntem ao grupo. “Além daqueles que vão com caravanas, há também nordestinos de direita que moram em Brasília e querem passar a data com a gente”, comenta.

“Para mim, tudo isso vai valer a pena. Parece um sonho. Vou me emocionar muito quando vir o Bolsonaro com a faixa presidencial”, declara a empresária.

Fonte: www.terra.com.br

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