A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) realizou, na manhã desta sexta-feira (25), uma sessão especial alusiva ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A temática foi proposta pelos parlamentares Eliza Virgínia (PSDB) e Sérgio da SAC (SD), para divulgar a campanha “Setembro Amarelo”, que realiza debates e ações de conscientização sobre o problema.

Eliza Virgínia destacou que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas por ano cometem suicídio em todo o mundo, sendo quase 12 mil casos somente no Brasil. Ela lembrou que, apesar disso, existe uma cultura de não se falar sobre o suicídio para não incentivar tentativas em pessoas que já têm essa intenção. “Não adianta varrer o lixo para debaixo do tapete. É um tema que precisa ser discutido para que a gente consiga salvar vidas”, disse.

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A vereadora pessoense disse que também há um estigma de que quem procura ajuda profissional é louco, e muitas pessoas, por ignorância ou preconceito, não aceitam medicamentos para tratar o problema. “Existem caminhos para que a pessoa consiga sair dessa situação, mas é preciso levá-la a sério”, afirmou Eliza Virgínia.

Sérgio da SAC, por sua vez, salientou que essa é uma questão grave de saúde pública e que pode estar perto de todos. “Muitas pessoas têm esse problema dentro da sua própria casa, mas não falam, e isso também acaba atingindo a todos da família. É preciso combater a hipocrisia que existe em nossa sociedade”, observou.

Ainda se pronunciou no debate o vereador Bira, que é psicólogo e militante na área de saúde mental. “Desde a minha época de estudante, os dados sobre saúde mental já eram alarmantes, e as novas projeções da OMS revelam que a depressão, por exemplo, é a doença responsável por 10% do tempo de vida sadio perdido pelas pessoas em todo o mundo. Muitas vezes, há uma invisibilidade das razões que podem levar ao suicídio”, comentou o parlamentar.

Suicídios ocorrem a cada 45 minutos no Brasil

O presidente da Associação Paraibana de Psiquiatria, Estácio Amaro, alertou para a importância de se oferecer assistência e acompanhamento adequados para pessoas que estão sofrendo com esse problema. Ele revelou que, no Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa comete suicídio.

“Entre os jovens de 15 a 35 anos, é a terceira maior causa de mortes. Tem que se fazer vigilância, não deixar a pessoa sozinha e, em alguns casos, até proceder com a internação hospitalar. Trata-se de uma doença que precisa ser tratada como qualquer outra”, destacou o médico.

Outro psiquiatra da Associação, José Brasileiro, alertou para a associação do suicídio com outros transtornos mentais. “90% dos quadros estão associados a algum problema mental, seja depressão, bipolaridade, esquizofrenia ou outros”, comentou.

Serviços de emergência psiquiátrica ainda são precários

Apesar das recomendações de intervenção e tratamento, os profissionais relataram que os serviços de atendimento ainda precisam ser melhorados. O psicólogo Luiz de França Pereira, que estava na sessão representando a Coordenação Estadual de Saúde Mental e trabalha há mais de 30 anos na área, disse que, na Paraíba, a cada três dias uma pessoa comete suicídio.

“Existem dezenas de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) para tratar de transtornos mais sérios, mas ainda é preciso avançar no trabalho de prevenção, principalmente na atenção básica. Muitas vezes, o profissional mal olha para o paciente e passa medicações que não podem ser administradas em pessoas com tendências suicidas, como é o caso dos ansiolíticos”, explicou.

Ainda sobre essas situações, a representante da Associação Paraibana de Autismo (APA), Hosana Carneiro, disse que constantemente aparecem responsáveis por cuidados de outras pessoas pedindo ajuda diante dos pensamentos suicidas que surgem em meio à carga de problemas que enfrentam.

Ela também relatou uma situação pessoal envolvendo um filho seu que, em uma crise bipolar, não obteve atendimento adequado em uma unidade de saúde privada da Capital. “Ele quase jogou o carro contra um ônibus, estava sem dormir, todo riscado com cruzes pelo corpo, mas a médica disse que ele não tinha nada”, lamentou. Hosana Carneiro ainda disse que é necessário lutar por um hospital psiquiátrico no Município.

Dona de casa dá depoimento sobre tentativa

A dona de casa Keila Limongi, de 41 anos, também usou a tribuna da CMJP, durante a sessão especial, para relatar seu próprio caso de tentativa de suicídio, há cerca de 15 anos. Ela lembrou que, na época, ao enfrentar um problema de saúde e se ver sem pessoas próximas para apoiá-la, entrou em pânico: “Minha mente simplesmente travou, e eu só ouvi uma voz pedindo para ir ao quarto e usar um canivete para atentar contra a minha vida”.

Segundo Keila, o gesto só não se concretizou
porque um irmão dela entrou no cômodo no momento da tentativa. “Aquilo passou, ficaram as cicatrizes, mas, depois de tanto tempo, Deus me deu dois presentes: meu esposo, que me escuta e me entende, e uma filha, apesar de a Medicina dizer que eu não poderia tê-la”, comemorou.

Sobre o “Setembro Amarelo”

A campanha “Setembro Amarelo” começou a ser realizada neste ano de 2015, a fim de conscientizar a sociedade acerca desse tema que ainda é considerado um tabu, mas que pode ser evitado em 90% dos casos com ações de prevenção.

A cor amarela faz alusão ao alerta que se deve ter diariamente na identificação dos possíveis casos de suicídio. Já o mês foi escolhido porque é no dia 10 de setembro que se celebra o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

No Brasil, uma das instituições que estão promovendo a causa é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional sigiloso para todas as pessoas que querem e precisam conversar.

Secom-CMJP

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